quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mais notícias sobre a crise no Mali e a situação dos reféns

Argélia lança operação para resgatar reféns de militantes em campo de gás

Ação militar é confirmada por Reino Unido. Informações indicam que cinco estrangeiros e 600 argelinos foram libertados; ministro reconhece que ataque militar deixou vários mortos

iG São Paulo | - Atualizada às

O Exército da Argélia lançou nesta quinta-feira uma operação para resgatar reféns em um campo de gás natural na desértica região sul que foi atacado por militantes islâmicos na quarta , disse o Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido.
À TV argelina, o ministro de Comunicações da Argélia, Mohamed Said Belaid, disse que o Exército lançou a operação quando os militantes rejeitaram se entregar e tentaram fugir do país com os reféns. "Um número importante de terroristas foi neutralizado durante a operação", afirmou. "Infelizmente deploramos algumas mortes e o fato de haver algumas pessoas feridas. Ainda não temos os números", afirmou indicando que haveria vítimas entre os reféns.


AP
Homem lê jornal com manchete 'Terroristas atacam e sequestram em Amenas' perto de banca na Argélia

Previamente, a agência estatal da Argélia afirmou que quatro reféns estrangeiros - dois da Escócia, um da França e um do Quênia - e 600 funcionários argelinos foram resgatados. Sem dar detalhes, porém, a agência acrescentou que a operação deixou várias vítimas. Citando o Ministério de Relações Exteriores da Irlanda, a rede de TV BBC disse que um irlandês foi solto e falou com sua família, mas não está claro se ele foi libertado pela operação argelina.
Os soldados argelinos cercavam desde quarta os radicais no complexo de Ain Amenas, no Saara perto da fronteira com a Líbia, que foi ocupado durante um ataque em que um britânico e um argelino morreram. Além dos dois mortos, seis outras pessoas ficaram feridas na quarta, incluindo dois britânicos, um norueguês, dois policiais e um agente de segurança, informou a agência de notícias estatal do país. O campo de gás é operado pela estatal de petróleo da Argélia, Sonatrach, juntamente com a petrolífera britânica BP e a norueguesa Statoil.
À Agência de Informação Nouakchott, rede de notícias da Mauritânia que divulga informações de grupos extremistas vinculados à Al-Qaeda, militantes disseram que helicópteros do Exército atacaram o local, matando 35 estrangeiros e 15 sequestradores. O porta-voz do Katibat Moulathamine ("Brigada Mascarada"), grupo fundado por um importante membro da Al-Qaeda no Norte da África que reivindicou a ação, afirmou que Abou El Baraa, líder dos sequestradores, está entre os mortos, enquanto sete reféns estrangeiros estão vivos.
Segundo o militantes, o ataque aconteceu quando eles tentavam deixar o complexo. As informações dos militantes ainda não foram confirmadas oficialmente. À Reuters, um residente local disse que há vários mortos pela operação.
AP

Foto sem data mostra campo de gás natural de Amenas, na Argélia
O governo do presidente dos EUA, Barack Obama, disse que ainda não pode confirmar se os reféns americanos estavam vivos ou mortos. 


O primeiro-ministro britânico, David Cameron, adiou um importante discurso que faria na sexta-feira na Holanda sobre o futuro do Reino Unido na União Europeia por causa da crise argelina. "É uma situação fluida, muito incerta e que ainda está em processo... temos de nos preparar para mais notícias ruins", disse.
'Retaliação à operação da França no Mali'
 

Na quarta, os militantes disseram que mantinham 41 estrangeiros como reféns, enquanto o governo argelino afirmava que haveria 20, incluindo americanos, britânicos, noruegueses, franceses e japoneses. Os militantes justificaram a ação afirmando que era uma retaliação à Argélia por permitir que a França use seu espaço aéreo para lançar ataques contra grupos rebeldes vinculados à Al-Qaeda no norte do Mali.
Nesta quinta, o presidente francês, François Hollande, disse que crise na Argélia mostra que a intervenção francesa no Mali é justificada. Segundo ele, os acontecimentos pareciam ter tomado um rumo "dramático", mas que não tinha informação suficiente para permitir uma avaliação correta da situação.
Previamente à informação sobre a operação para o resgate dos reféns, autoridades e a imprensa local disseram que alguns reféns haviam escapado do local . Detalhes da fuga e o número de envolvidos não estão claro, mas há informações de que entre 15 e 20 estrangeiros e entre 30 e 40 argelinos teriam escapado.
Os agressores mantinham os reféns em uma área do quarteirão residencial, que as forças de segurança e o Exército cercaram, segundo o ministro do Interior argelino, Daho Ould Kabila. Uma fonte da segurança argelina disse que os militantes armados exigiam uma passagem segura para sair com os reféns.
AP
Reprodução de vídeo fornecida por grupo de inteligência SITE supostamente mostra o líder militante Moktar Belmoktar, que liderou sequestro de reféns na Argélia
 
Porta-vozes dos militantes dizem que eles divulgaram uma lista de demandas, incluindo o fim da intervenção militar francesa no Mali. Além disso, afirmaram que os reféns seriam mortos se soldados tentassem resgatá-los. "Invadir o complexo seria fácil para o Exército argelino, mas o resultado seria desastroso", advertiu.
O ministro do Interior argelino disse que os sequestradores são argelinos e operam sob as ordens de Mokhtar Belmokhtar, um graduado comandante da Al-Qaeda no Magreb Islâmico desde o fim do ano passado, quando ele montou seu próprio grupo armado depois de aparentemente ter se indisposto com outros líderes.


*Com BBC, AP e Reuters
http://ultimosegundo.ig.com.br


Entenda os interesses da França no Mali

 

Operação militar francesa iniciada na sexta tem objetivo de impedir que grupos rebeldes assumam o controle de todo o país e, posteriormente, ameacem a Europa

|

BBC
 

A ação militar francesa no Mali parece haver rendido pontos ao presidente da França, François Hollande, nas pesquisas de opinião, mas muitos analistas se surpreenderam com a intervenção do país europeu na sua ex-colônia africana.


AP
Soldados franceses conduzem operações perto de Niono, centro do Mali


A operação militar francesa, que teve início na sexta-feira , tem, segundo Hollande, o objetivo único de impedir que grupos rebeldes islâmicos que controlam o norte do Mali assumam o controle de todo o país. Uma força regional, composta por tropas de vários países da África Ocidental, em poucos dias também estará no Mali para auxiliar nas operações contra os grupos insurgentes.
Pelos termos de um acordo firmado em outubro, a França deveria liderar uma missão europeia que daria treinamento com apoio logístico a uma intervenção promovida pelo bloco militar da Comunidade Econômica de Estado de África Ocidental (Cedeao). Ou seja, não estava previsto que a França participaria dos combates.
Hollande tem enfatizado que, se o Mali se converter em refúgio de insurgentes islâmicos, a segurança europeia estaria em risco. Mas, além da segurança europeia, o que mais estaria por trás da decisão francesa de intervir no conflito africano?

Ameaça à Europa
 
Os rebeldes islâmicos, alguns dos quais teriam ligações com a rede Al-Qaeda , já controlam metade do Mali, e a chance de que venham a controlar todo o território do país não é de todo remota, segundo Paul Melly, analista de temas africanos da BBC. Especialistas concordam que o Exército no Mali não tem capacidade de conter a ofensiva rebelde.
A captura recente de Konna, o ponto mais ao norte do país que ainda não havia caído nas mãos dos militantes islâmicos, funcionou como um grito de alerta. ''Representantes do governo da França não estavam exagerando quando disseram que, sem a intervenção francesa, os insurgentes islâmicos poderiam chegar à capital, Bamako, em questão de dias'', afirma Melly.
De acordo com o analista, isso teria sido desastroso não apenas para o Mali, mas para toda a África Ocidental, ''ameaçando a estabilidade e as estruturas democráticas de toda a região''. Isso também poria em jogo todos os interesses da ex-metrópole francesa, que, historicamente, sempre teve uma presença importante na região. E seria preocupante também para a comunidade internacional, segundo Melly.
''Permitir que um país da África Ocidental outrora estável ruísse completamente diante de grupos cujo objetivo é exportar a guerra santa seria arriscar a estabilidade e a segurança de várias nações, do Senegal à Nigéria'', opina o analista.

Intervencionismo francês
 
A França tem um histórico de intervenções militares em suas antigas colônias em momentos de insurreições, golpes de Estado e instabilidade política. O analista da BBC Tim Whewell frisa que a França, que até os anos 50 e 60 controlava vários países africanos, ''nunca deixou a região por completo''.
'"Mesmo após a independência de suas antigas colônias africanas, a França já interviu em conflitos no Gabão, na República Centro-Africana, na Costa do Marfim e na República do Congo."
Então, por que mudou de ideia tão subitamente se seu plano inicial era apenas fornecer apoio logístico? A resposta do governo francês é que a própria administração interina do Mali pediu a ajuda francesa quando os rebeldes avançaram até assumir o controle de Konna, cidade considerada crucial e situada a pouco mais de 680 km da capital malinesa.

Impulso a Hollande
 
Os índices de popularidade do presidente Hollande vinham despencando, e muitos acreditam que a intervenção favorece a sua imagem. Até o momento, o líder socialista vinha se posicionando como um estadista antibelicista, com planos de retirada imediata de tropas francesas no Afeganistão.
Mas seus índices de aprovação caíram para a faixa de 20% desde que ele chegou ao poder, no ano passado. E uma pesquisa recente mostrou que 3 em cada 4 franceses duvida que ele será capaz de cumprir suas promessas.
François Heisbourg, diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, baseado no Reino Unido, afirmou que a intervenção no Mali deu a Hollande um empurrão em um momento difícil para seu governo.
AP
Presidente da França, François Hollande, discursa sobre situação no Mali no Palácio do Eliseu, Paris (11/01)
 
"Hollande é visto, inclusive por muitos de seus partidários, como um homem indeciso, como Obama era visto nos primeiros meses de seu mandato", afirma. ''Sua decisão de intervir no Mali, que foi rápida, contundente e aparentemente efetiva, mudou subitamente a imagem de Hollande.''

Aposta de risco
 
Mas os analistas advertem também que a decisão francesa representa uma aposta de risco. ''Os rebeldes estão muito bem equipados, têm grande mobilidade e conhecimento do terreno. A França tem vantagem aérea, mas os bombardeios podem ser contraproducentes e alienar uma parte da população civil do Mali'', diz à BBC Nigel Inkster, ex-agente do MI6, o serviço de inteligência britânico.
Jonathan Marcus, especialista da BBC em assuntos diplomáticos, afirma que os objetivos da missão francesa são poucos claros: "O envio de tropas visa a conter o avanço dos rebeldes islâmicos ou a que o governo do Mali retome o controle do norte do país? Trata-se de uma área gigantesca'', comenta. Os próprios meios de comunicação franceses já manifestaram preocupações com a intervenção e destacaram que ''é fácil entrar, mas difícil sair''.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Em observação... Adm.
Qualquer comentário que for ofensivo e de baixo calão, não será bem vindo neste espaço do blog.
O Blog se reserva no direito de filtrar ou excluir comentários ofensivos aos demais participantes.
Os comentários são livres, portanto não expressam necessariamente a opinião do blog.
Usem-no com sapiência, respeito com os demais e fiquem a vontade.
Admin- UND-HN