sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

2013, UM ANO PERIGOSO





É bom não esperar muito dos próximos doze meses. Os dissídios internacionais tendem a crescer e, se não houver o milagre do bom senso, podem conduzir a novos conflitos armados regionais, com o perigo de que se ampliem. Os chineses, que têm  particular visão de mundo, podem dissimular sua alma coletiva, mas no interior de seu excepcional crescimento econômico e tecnológico, militam  sentimentos de orgulhosa desforra. Nenhum povo, ao que registra a História, foi tão espezinhado pelos invasores armados quanto o chinês.
           Durante milênios, senhores dentro de suas fronteiras,  sentiam-se os donos do mundo que conheciam, mesmo que vivessem em guerras internas e se defendessem de vizinhos hostis.
            O enriquecimento dos chineses e sua crescente presença internacional são fatos novos, que podem ser  o fator mais importante da História neste século, que já entrou em sua segunda década. Eles estão se apropriando, com perseverança e obstinação, das riquezas naturais do mundo, do petróleo às terras raras (de que são grandes possuidores em seu próprio subsolo). Ao mesmo tempo, desenvolvem  tecnologia militar própria e fortalecem seus exércitos.
 
          É difícil pensar que, dispondo de tal poder econômico e militar, os chineses não o utilizem  na defesa de sua cultura e de seus interesses. E também para cobrar o que lhes fizeram os colonizadores europeus durante o século 18 – e os japoneses, no século 20, na Manchúria. Como eles se lembram bem, contingentes do Exército Japonês, em fúria animal, mataram, entre dezembro de 1937 a fevereiro de 1938, mais de 200 mil militares e civis na cidade de Nanquim, estupraram as mulheres e meninas, antes de matá-las, e dilaceraram os corpos dos meninos, entre eles os de recém-nascidos.
 
        O general Chiang-kai-Chek, que se tornaria anticomunista em seguida, não ficou bem no episódio. Com a desculpa de que deveria preservar a elite de seu exército, abandonou a cidade, entregando-a a recrutas mal treinados e a voluntários civis, além da população, inocente e desarmada. Foi essa gente, sem treinamento e debilitada, que os japoneses venceram e trucidaram. Os chineses não esqueceram os mortos de Nanquim, e os japoneses se esforçam em fazer de conta que não foi bem assim.
 
        O dissídio, aparentemente menor, entre Beijing e Tóquio, a propósito das ilhas Senkaku (em japonês) ou Diaoyu (em chinês) pode ser o pretexto para o acerto de contas de 1937. Nos últimos dias do ano, o Japão decidiu enviar uma força naval para a defesa das ilhas, cuja soberania diz manter – o que os chineses contestam. Os chineses advertiram que vão contrapor-se à iniciativa bélica japonesa. As ilhas, sem importância econômica, e  desabitadas, eram milenarmente chinesas, e foram incorporadas pelo Japão em 1895, depois da  guerra sino-japonesa daquele fim de século. São ilhotas diminutas, a menor com apenas 800 metros quadrados (menor do que um lote urbano no Brasil) e a maior com pouco mais de 4 km2.
 
           Acossados por uma série de vicissitudes, os Estados Unidos começam o ano combalidos pelo confronto político interno, a propósito do Orçamento. Mas não perdem a sua velha arrogância imperial. Há mesmo quem veja, na decisão japonesa de enviar navios de guerra ao diminuto arquipélago, uma jogada do Pentágono, para antecipar, enquanto lhes parece mais conveniente, o confronto com os chineses. Há um tratado de paz dos Estados Unidos com o Japão que prevê a ajuda americana em caso de conflito regional. É uma partida muito arriscada.
 
       O presidente Obama também acaba de sancionar uma lei do Congresso determinando que o governo norte-americano tome medidas para impedir a penetração diplomática do Irã na América Latina, e, no bojo das justificativas, a Tríplice Fronteira é mais uma vez citada, como  área que financia o Hesbolá. Como se  não houvesse, ali e no resto do Brasil, os que financiam o Estado de Israel. Devemos nos precaver.
 
      Infelizmente, no Brasil, há sempre os vassalos de Washington, que estimulam o intervencionismo ianque em nossas relações internacionais (sobretudo com o Irã e a Palestina), entre eles alguns senadores da República, como revelaram os despachos do Embaixador Sobel, divulgados pelo WikiLeaks.
 
       O anunciado conflito armado entre Israel e o Irã é também alimentado pelo ódio da extrema direita judaica contra todos os que criticam Tel Aviv. O Centro Simon Wiesenthal considerou o cartunista brasileiro Carlos Latuff o terceiro maior inimigo de Israel no mundo. Os dois primeiros são o líder espiritual da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e Ahmadinejad, o presidente do Irã.
        O cineasta Sylvio Tendler, em mensagem de solidariedade a Latuff, lembra que eminentes judeus, entre eles os jornalistas Ury Avnery, Amira Haas e Gideon Levy, são mais críticos da posição de Israel contra os palestinos do que o cartunista brasileiro.
 
       É lamentável que o nome do caçador de nazistas Simon Wiesenthal, que conheci e entrevistei, em Viena, há mais ou menos 40 anos, para este mesmo Jornal do Brasil, seja usado para uma organização fanática e radical, como essa. Wiesenthal, ele mesmo sobrevivente da estupidez nazista, era um obstinado – e legítimo – caçador de criminosos de guerra, que haviam cometido todo o tipo de atrocidades contra seu povo.
 
      O governo direitista de Israel é de outra origem. Não podemos fazer de conta que nada temos contra a ameaça a um cidadão brasileiro, Carlos Latuff, cuja segurança pessoal deve ser, de agora em diante, de responsabilidade do governo. Ou  que não nos devamos preocupar com a lei aprovada por Obama. Temos tido bom relacionamento com o governo do Irã, e a política externa brasileira é  decisão soberana de nosso povo.
 
     Uma presença militar maior em Foz do Iguaçu e ao longo da fronteira ocidental é necessária, a fim de dissuadir os agentes provocadores. As guerras sempre foram vantajosas para os americanos, desde a invasão do México, em 1846-48. É provável que seus estrategistas  estejam retornando à Doutrina Bush da guerra infinita.
 
        Diante desse cenário mundial instável, e na perspectiva de uma campanha sucessória agitada, temos que manter toda serenidade possível. A defesa de posições políticas eventuais não deve comprometer a segurança nem a soberania do povo brasileiro. A nação deve sobrepor-se a todos os interesses, mais legítimos uns e menos legítimos outros, de grupos econômicos e partidários.
 
      Infelizmente, desde Calabar e Silvério dos Reis, não faltam os que desprezam o nosso povo e traem os interesses da Pátria.
 
Título Original: UM ANO PERIGOSO
 
Fonte: Jornal do Brasil
 
Mauro Santayana
 
O Autor é um jornalista autodidata brasileiro. Prêmio Esso de Reportagem de 1971, fundou, na década do 1950, O Diário do Rio Doce, e trabalhou, no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas, Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil onde mantêm uma coluna de comentários políticos.

5 comentários:

  1. Parabens mano seu novo design ficou o pipoco oh! parabéns tenha um 2013 cheio de vitória em nome de Jesus... Revellati Online,,,
    estamos juntos!

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  2. Quero lembrar que não importa se se trata de um "governo direitista" ou "esquerdista" (trabalhistas), o que está em jogo é a existência de Israel, cujo direito muitos negam, mormente aqueles embuídos de um ódio mortal pela civilização judaico-cristã, que, bem ou mal, garante nossas liberdades. E não se esqueçam: a única verdadeira democracia no Médio Oriente é a israelense.

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    1. Sei que Israel independente de sua diretriz política também não se possa negar o seu legítimo direito de defesa e existência.
      Que em Israel ao contrário de seus vizinhos muçulmanos tenha uma história de maior liberdade democrática, onde se conduzem eleições parlamentares e por aí vai.
      No entanto Israel peca no sentido de ser tão autoritário ao extremo, que não se difere e muito de seus arque-inimigos na região os quais Israel alega ímpetos extremistas como o caso das autoridades iranianas que por diversas vezes defenderam a aniquilação do Estado hebreu.
      O que Israel faz com os palestinos são clássicos das maiores ditaduras que já existiram na história recente.
      Querer privar um povo de seus legítimos direitos e de sua dignidade joga o conceito de democracia israelense no lixo. Democracia só para os israelenses e para fazer face de democráticos ao mundo? Isso não importa, o que vai importar é ser democrático por inteiro, dando as condições dignas aos palestinos, pois tenho certeza que o alívio de tanta pressão, um maior reconhecimento e a busca sincera por medidas que tragam benefícios para ambos, o progresso dos povos, isto sim trarão a diminuição da busca pela confrontação.
      O direito de defesa e existência é inerente a qualquer povo, não só a um povo que se considera superior e impõe duras penalidades a um povo mais fraco " Palestinos " justificando nas atitudes de algumas parcelas mais radicais entre palestinos, a decisão de fazer um estado prisão, indiretamente governado pela tirania israelense.
      É minha opinião sobre o como vejo a questão israelense perante principalmente com os palestinos.
      Abraços

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  3. Daniel,

    Primeiramente, parabéns pelo novo blog.

    O veterano Mauro Santayana é um excepcional jornalista. É o único dos famosos que é plugado nos novos tempos, embora aborde as qustões de modo discreto, percebe-se a visão apurada do pemiado jornalista.

    Quanto ao Lattuf, ele vem recebendo solidariedade de vários intelectuais brasileiros em manifesto que está circulando na internet, alguns destes são judeus brasileiros descados, além de intelectuais de países vizinhos, como Argentina e Uruguai.

    Não é de hoje que o Mossad e a CIA tem seus olhos voltados para a tríplice fronteira. Certamente o golpe sofrido pelo presidente paraguaio Lugo está dentro uma agenda que inclui prejudicar o Brasil, a Argentina, o próprio Paraguai, Bolívia, Uruguai, especialmente a Venezuela e outros países latino americanos, como foi também o caso de Honduras, que foi o laboratório para golpes em outros países.

    Sobre este assunto, note as coincidências havidas nesta região: Todos os presidentes sofreram com o cancêr. Lula, Dilma, Lugo, Cristina Kirshner e Chaves. A maioria deles da cintura para a cima, como se ouvessem sido atingidos por algum tipo de radiação desferida quando de aparições públicas destes políticos.

    Cabe também ressaltar que as américas central e do sul estão em plena paz, com governos que defendem os interesses dos povos e o respeito mútuo entre sí, além da procura de uma integração econômica.

    Como sabemos, para cabala escura, nova ordem mundial, ou qualquer nome que queiram chamá-la está desgostosa com a região. O objetivo deles, óbvio, é semear a discódia, as guerras, as inimizades, a miséria, a fome e toda a sorte de maus feitos, objetivando levar o caos e implantar seus sórdidos projetos para a humanidade.

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