Caso Dyátlov – 54 anos:
‘Não
vá lá’: a aventura final
O
misterioso caso do desaparecimento e perecimento de um grupo de
estudantes
universitários na Rússia, em janeiro de 1959, continua impressionando
ainda nos dias de hoje.
Por
Pepe Chaves*
Para
Via
Fanzine
BH-06/01/2013
O grupo de turistas
segue para a sua aventura final na carroceria de um caminhão, no
detalhe, o líder Ígor Dyátlov.
Em todo o planeta, a história humana registra
casos de desaparecimento e perecimento de pessoas, sob circunstâncias
inexplicáveis e de maneira traumática, criando um choque para aqueles
que constatam a situação.
O desaparecimento inequívoco de pessoas como
pilotos de avião, marinheiros, turistas, montanhistas, entre outros, já
remonta um consistente leque de ocorrências dessa natureza por todo o
mundo, pelo menos, ao longo das últimas décadas.
Voltando ao ‘Ano Geofísico Internacional’
Em todo o mundo, o ano de 1958 foi reconhecido
pela UNESCO como o “Ano Geofísico Internacional”, sendo um divisor de
águas para as criações e conquistas tecnológicas. Passados 13 anos do
final da Segunda Guerra Mundial, a então comunidade humana parecia
querer se abrir a si mesma, mas diferentes interesses políticos – entre
outros - impediam que isso viesse a ocorrer.
Época da chamada “guerra fria”, uma silenciosa
disputa de poder travada entre os Estados Unidos da América (EUA) e a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), então defensores dos
modelos capitalista e socialista, respectivamente.
Felizmente, os confrontos da guerra fria
ocorreram dentro dos campos das ciências e da tecnologia de ponta,
desfechando numa busca natural por superação de ambas as partes. Em
suma, tal disputa culminaria no envio do primeiro homem ao espaço, pelos
russos, em 1961; e nas viagens lunares realizadas pelos norteamericanos
de 1969 até 1972.
URSS,
1958
Na socialista URSS do distante ano de 1958, as
pessoas pareciam animadas com as novas perspectivas e isso transparecia,
sobretudo, nos grêmios estudantis das grandes cidades e da capital,
Moscou. Naquela ocasião, o clima era de intercâmbio entre as pessoas de
um país continental. Era comum que, com o apoio de comitês sindicais das
instituições de ensino, ou por iniciativa própria, estudantes se
agrupassem para realizar viagens e longas caminhadas, viajando, no
verão, pelas diversas partes daquela imensa nação, e no inverno,
percorrendo com esquis por regiões geladas e desérticas.
E neste cenário, no final de 1958, um grupo de
jovens, cuja maioria era de estudantes universitários, planejou uma
caminhada por regiões geladas e desérticas, dentro do mais alto grau de
dificuldade, que deveria se iniciar em janeiro de 1959.
Monte
Otortén
Eles programaram passar alguns dias esquiando e
acampando em uma região inóspita no Ural do Norte, na Rússia, em
cordilheiras nas
proximidades do Monte Otortén.
O povo mansi, formado por nativos locais que
possui parentesco com
indígenas norteamericanos e vive por longos tempos nos territórios de
Ural e Sibéria, já alertara aos potenciais visitantes sobre os perigos
daquela imponente montanha. No idioma mansi, Otortén significa "Não vá lá".
Também o nome nativo dado à montanha vizinha ao Ortotén que, como se
verá,
teve papel central em toda a tragédia, não é menos lúgubre: “Kholat Syakhyl” ou a “Montanha dos Mortos”.
Liderado por Ígor Dyátlov, experiente atleta e
turista esportivo, o grupo inicial era formado por oito homens e duas
mulheres. A maior parte deles era de estudantes ou recém formados pela
Universidade Politécnica de Ural (UPI). Todos eles já eram experientes
em aventuras do gênero, já tendo feito pernoites em situações adversas e
passado por algumas dificuldades extremas em outros trajetos inóspitos.
Depois de muito planejar a viagem, o grupo
decidiu que passaria pelo topo do Otortén e seguiria pelas altas
nascentes de alguns rios da região. Repletos de bagagens, eles partiram
de Sverdlovsk em 23 de janeiro de 1959. Com muitas mochilas e alguns
equipamentos cedidos pela própria universidade, sempre em direção ao
Monte Otortén, eles percorreram diversas localidades a bordo de trem e
ônibus até o ponto em que partiriam nos esquis.
Imprevisto cruel
Ocorre que eles seguiram, mas jamais voltaram.
Alguns dias depois da partida, o grupo desapareceu na grossa capa de
neve do Ural do Norte, sob circunstâncias confusas e que, após 54 anos
(completos em janeiro de 2013),
ainda não foram devidamente esclarecidas.
Ainda continua pendente uma explicação sensata sobre as circunstâncias
com que teria ocorrido a suposta fatalidade que culminaria no perecimento
dos jovens, se tornando uma incógnita a todos que
se inteiram dessa história.
Desde o início, o interesse no caso foi manifestado
ao mais alto nível
em Moscou, incluindo o próprio Kremlin, através do líder soviético, Nikita Khrushchev. Para o público em geral, as
informações sobre o caso
foram imediatamente classificadas como “segredos”, permanecendo como tais até o final da década de 1980 e se tornando públicas
somente na era da Perestróika, de Gorbatchov.
No entanto, diversas versões surgiriam depois,
tentando justificar o ocorrido, sem que nenhuma delas jamais se tornasse a
definitiva ou realmente comprovasse o que se passou de fato com as
vítimas. E, o que mais implica neste caso, são os insolúveis detalhes em
torno da ocorrência - como veremos em matéria especial - levando qualquer um a se incomodar com o mistério
não desvendado que envolve a questão.
A pesquisadora e escritora Natália Dyakonova aborda a
misteriosa questão.
Caso
Dyátlov em português
E para
Via
Fanzine, é uma honra publicar e hospedar a primeira versão completa em
português do Caso Dyátlov, pela autoria da pesquisadora e escritora
russa Natália Dyakonova, nossa consultora e correspondente em Moscou. Em
artigo especial, intitulado “Não vá lá”, a autora nos dispõe explicações
detalhadas sobre esse episódio aterrador. Ela acompanha a questão desde
o surgimento de informações públicas sobre o Caso Dyátlov, durante a década de
1990.
Nesse trabalho exclusivo, Natália Dyakonova
também se preocupou em disponibilizar fotografias autênticas envolvendo o
desaparecimento e perecimento do grupo de estudantes liderado por
Dyátlov. A maior parte dessas imagens foi extraída do
dossiê oficial da investigação, sendo algumas delas de forte impacto.
A matéria especial, com tradução do russo ao
português por Oleg Dyakonov é dividida em três partes e remonta toda a
trajetória do grupo estudantil desde o início da viagem, até o seu
misterioso desaparecimento e, posteriormente, os resultados das
reiteradas buscas por pistas na região.
A parte 1/3 da matéria especial “Não vá lá”, de
Natália Dyakonova estará disponível em
Via
Fanzine a partir da
quarta-feira, 09/01/2013. A publicação da parte 2 está prevista para o
início do mês de fevereiro e da parte 3 (final) para o início de março.
Expressamos os nossos sinceros
agradecimentos à autora
Natália Dyakonova e ao tradutor Oleg Dyakonov, por seus esforços para
disponibilizar mais este material de alta qualidade ao idioma português.
*
Pepe Chaves é editor do diário digital
Via
Fanzine e da
Rede VF de portais.
- Fotos: Dossiê da
investigação/Reprodução e Arquivo particular de Natália Dyakonova.
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