Irmandade Muçulmana convoca rebelião contra Exército, que diz ter agido em resposta à ação de 'terroristas'
Confrontos de soldados e policiais contra islamitas
deixaram 54 mortos nesta segunda-feira no Cairo, incluindo 51
manifestantes e três membros das forças de segurança, disseram
autoridades e testemunhas, em meio a uma crise política depois da
deposição do presidente islamita Mohammed Morsi
. Em resposta à violência, a Irmandade Muçulmana, de Morsi, convocou uma rebelião completa contra o Exército
. Os confrontos também deixaram 435 feridos.
A carnifica do lado de fora do prédio da Guarda
Republicana no distrito de Nars City, a leste da capital - onde Morsi
ficou sob custódia logo depois de sua deposição no dia 3 -, marca o dia
com maior número de mortos desde o início de protestos em massa que
levaram à susbtituição do governo dele por uma administração civil interina
.
Seus partidários - muitos dos quais pertencem á Irmandade
Muçulmana - estavam acampados no local. Eles dizem que o Exército
realizou um golpe
e que Morsi é seu presidente legítimo. Mesmo antes de todos os corpos
serem contados, houve relatos conflitantes sobre como a violência
começou. Os partidários de Morsi disseram que os soldados atacaram seu
acampamento de manifestação sem terem sido provocadas, enquanto o
Exército afirmou ter sido agredido primeiramente por atiradores.
Depois da violência da manhã desta segunda-feira, o
partido linha dura salafista Nour - que havia apoiado a queda de Morsi -
disse que se retirava das negociações para escolher um primeiro-ministro interino
, descrevendo o incidente como um "massacre".
Mesmo antes de todos os corpos serem contados, no dia com
mais mortes desde o início da crise, houve relatos conflitantes sobre
como a violência começou - com os partidários de Morsi dizendo que foi
um ataque lançado sem provocação, enquanto o Exército afirmava terem
sido agredidos primeiramente.
A violência certamente dividirá ainda mais a
Irmandade Muçulmana, que acusa o Exército de ter realizado um golpe
contra a democracia, de seus oponentes, que alegam que Morsi manchou sua
vitória eleitoral
e traiu o espírito democrático da revolução da Primavera Árabe
- em que Hosni Mubarak foi deposto em 2011
- ao aumentar a presença da Irmandade no Estado.
O Exército, que depôs Morsi em meio a protestos populares
em massa, agora agora enfrenta pressões para impor rígidas medidas de
segurança para evitar que o conflito saia do controle. Também terá de
produzir provas convincentes para apoiar sua versão dos acontecimentos
para não sofrer o que já surge com uma ofensiva de mídia da Irmandade
para retratar o Exército como uma instituição brutal com pouca
consideração pela vida humana ou pelos valores democráticos.
Poucas horas depois do ataque a tiros, o braço político
da Irmandade Muçulmana conclamou todos os egípcios a se levantar contra o
Exército, que acusou de empurrar o país para se tornar "uma nova Síria"
- um referência à guerra civil que deixou mais de 93 mil mortos
desde março de 2011.
Ahmed Mohammed Ali, um porta-voz militar, disse que
atiradores afiliados à Irmandade tentaram invadir o prédio antes no
amanhecer, disparando munição real e lançando coquetéis molotov a partir
da mesquita e dos telhados vizinhos.
Médico egípcio partidário de presidente deposto Mohammed Morsi é visto em hospital em Nassr City, Cairo (8/7)
A estudante universitária Mirna el-Helbawi também relatou
que atiradores leais a Morsi abriram fogo primeiro, incluindo a partir
do telhado de uma mesquita vizinha. El-Helbawi, 21, vive em um
apartamento em que tem uma visão do local.
Partidários de Morsi, porém, disseram que as forças de
segurança dispararam contra centenas de manifestantes, incluindo
mulheres e crianças, que estavam no acampamento do lado de fora do
local. "Eles abriram fogo com munição real e usaram gás lacrimogêneo",
disse Al-Shaimaa Younes, que estava no acampamento. "Houve pânico e as
pessoas começaram a correr. Vi pessoas caírem."
Qualquer que seja o desencadeador da violência, a
escalada do caos complicará ainda mais as relações do Egito com
Washington e outros aliados ocidentais, que agora reavaliam suas
políticas em relação ao grupo apoiado pelo Exército que forçou a saída
de Morsi.
*Com AP e BBC
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