A
guerra contra as drogas e o terrorismo tem diluido as fronteiras entre a
polícia e os militares nos EUA. O resultado do aumento no controle dos
estados pelo governo federal foi a criação de uma polícia militarizada
composta de agentes fortemente armados que carregam rifles
semi-automáticos para fazer seu trabalho de rotina. Esta nova geração de
bandidos militares têm o poder e a vontade de saquear lojas de
alimentos, fazendas e casas por razões que são simplesmente
inexplicáveis.
Consumo
de leite cru, a posse de um jardim ou um relatório simples de um
vizinho pode acionar um cenário de pesadelo para qualquer americano em
qualquer cidade ou vila do país. Recentemente, um cão recebeu multiplos
tiros de um policial depois que o animal começou a latir para ele
enquanto prendiam o seu dono. O homem foi inexplicavelmente preso e
algemado, enquanto caminhava pela rua sem que os agentes explicassem o
porquê.
A
imagem da polícia que as pessoas tinham em quase todas as cidades deu
lugar a grupos armados de agentes que não hesitam em colocar 10 ou mais
tiros em qualquer um que não faz o que eles dizem. Não há tolerância
para o diálogo ou o respeito aos direitos constitucionais.
Armados
com rifles e veículos blindados, a polícia cerca casas e bens públicos
com uma mentalidade de guerra na qual mergulham seus cérebros, o que é
difícil de apagar. Estes homens estão preparados para conduzir combate
urbano contra aqueles que pagam seus salários.
Os
militarizados são agentes de uma força especial cujas ações são muitas
vezes letais. Conhecidos como equipes da SWAT, são treinados para atuar
como militares como parte da crescente aquisição de departamentos de
polícia nos Estados Unidos pelo governo federal. Eles estão prontos para
atacar, apreender e deter sem explicação.
A
maioria de suas vítimas são cidadãos desarmados e inocentes que estão
longe de ser a ameaça descrita nos treinamentos da polícia que são
orquestrados como operações de alto risco. Muitos policiais são
ex-soldados que retornam do Iraque que receberam uma lobotomia em
preparação para viajar para zonas de guerra e que não são capazes de
limpar as cenas vistas de suas mentes.
“Eles
são chamados de forças especiais e não devem ser usados constantemente.
O problema é que seu uso não é especial, mas de rotina “, diz Arthur
Rizer, um ex-policial e ex-soldado que tem observado durante anos a
crescente militarização dos departamentos de polícia locais.
Grande
parte dessa militarização é por causa do financiamento federal dos
departamentos de polícia locais. Se um departamento de polícia não segue
as orientações sobre como os agentes devem agir, estes departamentos
sofrem cortes no orçamento por parte do governo federal. Às vezes,
quando os oficiais de justiça decidem se opor à militarização de seus
agentes, são perseguidos pelo governo que inventa accusações de abuso de
poder e tratamento desumano de prisioneiros, entre outras coisas.
“Se
eles são treinados como soldados e estão equipados como soldados não
devemos ficar surpresos quando eles agem como soldados. A missão de um
soldado é matar o inimigo “, disse Rizer, que é professor de Direito na
Universidade de Georgetown.
Radley
Balko, jornalista investigativo, publicou recentemente um livro no qual
ele descreve como a polícia está equipada com meios militares e como
eles chegaram a ser utilizados quase que diariamente em ataques contra
suspeitos de possuir drogas, pessoas que plantaram uma horta ou de
vender leite cru em sua fazenda. Aquelas pessoas que educam seus filhos
em casa também são vítimas das visitas dos militarizados.
Às
vezes, diz Radley, as intervenções destas forças militarizadas acabam
em consequências fatais para os cidadãos. Seu livro “Rise of the Warrior
Police” fala de casos de monges tibetanos presos por equipes
militarizadas da SWAT após o visto expirar em 2006. Ele relata o caso de
Alberto Sepulveda, de 11 anos, que morreu em 2000, após ter sido
baleado por engano durante uma operação do SWAT contra um grupo de
traficantes de drogas na Califórnia.
Danos colaterais
O
que muitos americanos conhecem como SWAT nasceu na década de 1960,
pouco antes do presidente Richard Nixon declarar a guerra contra as
drogas. Será que isso é uma coincidência? Desde então, seu tamanho e
força cresceram desproporcionalmente sob o pretexto da necessidade de
proteger a polícia na luta contra os cartéis de drogas, “que geralmente
são fortemente armados”, disse Rizer.
Hoje,
é difícil ver equipes do SWAT trabalhando na fronteira entre os EUA e o
México ou Canadá, que são os dois principais pontos de entrada para os
traficantes de drogas, mesmo que tal desculpa fosse dada para investir
milhões de dólares na militarização dessas equipes e dos departamentos
de polícia.
“Apesar
do fato de que uma lei de 1878 impede o uso de forças militares e de
segurança nos EUA , o governo fez um mix entre os dois estilos em sua
luta ineficaz contra o tráfico de drogas,” Rizer acrescentou.
“A
guerra contra as drogas começou a equipar policiais e soldados e a
chamada guerra contra o terrorismo levou à militarização da polícia para
um nível totalmente novo”, disse Rizer. Após os ataques de 11 de
setembro de 2001, o Governo aumentou o financiamento para a
militarização em um suposto esforço sem fim para combater o terrorismo
no país, enquanto a tecnologia militar tornou-se mais acessível aos
departamentos de polícia locais.
De
acordo com o Center for Investigative Reporting (CIR), o Departamento
de Segurança Interna (DHS) investiu 35 bilhões desde 2002 para
fortalecer as forças nacionais, especialmente para comprar equipamento
militar, enquanto o Pentágono gastou mais 500 milhões de dólares para
militarizar a polícia só em 2011.
Enquanto
isso, equipes da SWAT foram mobilizadas para milhares de missões, desde
a sua criação. Ate 2005, ela tinha realizado 50.000 missões, segundo o
professor e pesquisador Peter Kraska, da Universidade de Kentucky.
Esta
tendência chamou a atenção de Rizer em 2006, quando ele voltou aos EUA
depois de dois anos de serviço na guerra do Iraque e viu “um policial no
aeroporto, na cidade de Minneapolis carregando uma M4, exatamente o
mesmo rifle que ele usou quando patrulhou a cidade iraquiana de
Fallujah.
Em
países como os EUA, Canadá e Reino Unido, agora é normal ver policiais
militares fortemente armados em aeroportos, estações de trem, portos e
outros pontos de acesso. O número desses agentes aumenta drasticamente a
cada vez que os governos desses países afirmam que existe uma ameaça ao
seu país, caso em que é comum ver policiais uniformizados em preto
patrulhando as ruas de cidades como Nova York, Boston, Los Angeles e
Chicago .
“Uma
M4 é uma arma de longa distância. Se a polícia tem que matar alguém
que está distante, isso não se encaixa no conceito de proteger e servir a
sua comunidade. Então eu comecei a investigar a militarização da
polícia nos EUA,” Rizer disse. Agora, o especialista acredita que “a
polícia nos Estados Unidos tornou-se simplesmente uma força cujos
objetivos estão baseados na mentalidade de quebrar portas e derrubar
edifícios.”
Este
comportamento muitas vezes é comemorado em todo os EUA por pessoas que
não têm idéia de como a polícia tem sido transformada. O exemplo mais
recente é a busca de um suposto suspeito de terrorismo em Boston, onde
as equipes da SWAT da polícia invadiram bairros onde eles acreditavam
que o suspeito poderia estar escondido. Depois de encontrá-lo, a polícia
desfilou sob aplausos de algumas pessoas que pareciam encantadas com a
idéia de que ter o seu rosto sob a bota de homens em uniformes pretos é
sinônimo de segurança..
Em
seu livro, o Sr. Balko também fala de uma “cultura de militarização”,
que foi aumentada por estímulos feitos através de vídeos, filmes e
canais de notícias, onde bandidos policiais são recrutados para realizar
missões e onde são elogiados cada vez que desobedecem a Constituição a
fim de “salvar a cidade” dos membros do grupo terrorista Al Qaeda.
Muitas vezes, esses supostos terroristas preenchem o perfil do típico
cidadão americano e não o de um terrorista árabe, por exemplo.
As
pesquisa feitas por Rizer, Balko e Kraska serão fortes adições a um
estudo realizado pela ACLU, uma organização para a defesa dos direitos
civis, que avaliou o fenômeno conhecido como a militarização da polícia
nos Estados Unidos. O estudo é baseado em dados de 255 departamentos de
polícia em 25 estados dos EUA.
Kara
Dansky, que lidera a pesquisa para a ACLU, disse que foi a sua
experiência na leitura de relatórios perturbadores como os citado por
Balko, que a incitou a investigar “se houve de fato um movimento para
militarizar a polícia” nacional.
Fonte: http://real-agenda.com
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