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Terra foi atingida por explosão de raios gama e ninguém percebeu
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Por Natasha Romanzoti em
21.01.2013
as 15:00
No século VIII, uma colisão de estrelas de nêutrons pode ter criado uma enorme explosão de raios gama – a mais poderosa explosão conhecida no universo – no nosso quintal, que passou totalmente despercebida e não documentada na Terra.
Isso significa que uma explosão súbita de energia de alta intensidade
(cerca de 10.000 vezes a energia da bomba atômica lançada sobre
Hiroshima) simplesmente foi ignorada pelos seres humanos.
Mistério
No ano passado, cientistas japoneses descobriram evidências de que,
em 775 dC, a Terra foi atingida por uma explosão gigantesca. Claramente,
algo catastrófico ocorreu na região cósmica próxima a Terra, mas, o que
quer que fosse, aparentemente não foi detectado pelas 350 milhões de
pessoas que viviam em nosso planeta na época.
Os registros históricos não mencionam estranhos eventos celestiais, catastróficos ou de qualquer outra natureza naquele ano.
Então como ficamos sabendo que isso realmente aconteceu?
O evento ficou gravado na quantidade de carbono radioativo presa nos
anéis de crescimento anuais de algumas das árvores mais antigas do
mundo.
A descoberta
O principal isótopo radioativo do carbono, o carbono-14, forma-se
quando partículas energéticas entram na atmosfera da Terra e colidem com
átomos de nitrogênio.
Como as árvores absorvem tanto carbono-14 quanto o mais estável
carbono-12, os níveis relativos de carbono-14 em seus anéis de
crescimento dão aos cientistas uma forma de medir a quantidade de
partículas de alta energia que entraram na atmosfera da Terra em um
determinado ano.
Ao analisar dois antigos cedros japoneses
no ano passado, os cientistas descobriram quantidades
surpreendentemente grandes de carbono-14 em seus anéis de crescimento.
Também encontraram picos de berílio-10 no gelo antártico. Os
pesquisadores fixaram a presença de ambos os conjuntos de radiação para
os anos entre 774 e 775.
É normal que os níveis de carbono-14 flutuem; eles sobem e descem em
um ciclo de 11 anos, com o aumento e a diminuição das erupções solares.
Porém, nos 3.000 anos de registro dos anéis, não houve picos tão grandes
quanto o do ano 775.
Então, o que poderia ter causado a explosão maciça de radiação e o
elevado fluxo de partículas energéticas que levaram aos grandes níveis
de carbono-14 na atmosfera?
Possibilidades
No início, duas possibilidades pareciam mais prováveis: a radiação
tinha vindo de uma erupção solar especialmente intensa, ou da explosão
de uma estrela próxima.
Os cientistas descartaram a hipótese de erupção solar por duas
razões. Primeiro, uma explosão desta magnitude teria provocado um
espetáculo de luzes inesquecível no norte, enquanto tal fenômeno nunca
foi registrado. Segundo e mais importante, tais chamas também teriam
destruído a camada de ozônio da Terra, expondo toda a vida no planeta a
uma radiação intensa e iniciando um evento de extinção em massa.
Já a morte de uma estrela, ou seja, uma supernova nas proximidades,
teria enviado raios gama em todas as direções, que poderiam ter criado
partículas de alta energia em nossa atmosfera, formando o carbono-14
presente em abundância nos cedros japoneses.
Mas, a fim de enviar raios gama suficientes para tanto, a supernova
teria que ser maior e mais brilhante do que qualquer outra já
documentada. No entanto, mais uma vez, não há registro de uma supernova
em 775.
E, mesmo que as pessoas de alguma forma tenham perdido uma estrela
explodindo, seus restos deveriam estar lá fora até hoje, lançando um
brilho fraco que poderia ser pego por telescópios. Os cientistas já
identificaram 11 estrelas remanescentes em nossa vizinhança galáctica, e
nenhuma delas tem a idade certa para ter causado o pico de 775.
Isso tudo significa que nem erupções solares, nem supernovas podem explicar a anomalia de carbono-14 de 775 dC.
Colisão de estrelas de nêutrons
Agora, um segundo grupo de pesquisadores da Alemanha sugeriu que uma
explosão de raios gama de curta duração produzida pela colisão de duas
estrelas de nêutrons próximas pode ter sido a causa da anomalia.
Somente a colisão de dois “remanescentes estelares compactos”, como
buracos negros, estrelas de nêutrons ou anãs brancas geraria uma
explosão intensa de energia liberada na forma de raios gama, que são a
parte mais energética do espectro eletromagnético, que inclui luz
visível.
Embora imensamente poderosa, essas grandes explosões de energia duram
menos de dois segundos. Isso significa que, no momento em que a
radiação chegou ao nosso planeta, teria sido absorvida pela nossa
atmosfera, e não haveria sinais evidentes do grande evento que aconteceu
longe no universo.
Ou então, a maior parte da radiação foi absorvida pela atmosfera e,
em seguida, fez o seu caminho para a superfície do planeta por um longo
período de tempo. Infelizmente, pode não ter havido nenhum flash
ofuscante de luz visível intensa para sinalizar o estouro.
Isso pode explicar por que o evento não foi registrado e nossos antepassados medievais não o perceberam.
“Nós olhamos nos espectros de curtas explosões de raios gama para
estimar se seriam consistentes com a taxa de produção do carbono-14 e
berílio-10 que observamos, e achamos que é totalmente coerente.
Explosões de raios gama são eventos muito energéticos, e a partir desta
energia, nossa conclusão foi de que o fenômeno ocorreu a 3.000 a 12.000
anos-luz de distância, e isso é dentro de nossa galáxia”, explica o
professor Ralph Neuhauser, do Instituto de Astrofísica da Universidade
de Jena (Alemanha).
Se tivesse ocorrido mais perto da Terra, essa explosão teria causado danos significativos para a nossa biosfera.
Os cientistas já identificaram cinco estrelas de nêutrons que
poderiam ter causado a enorme explosão, e o próximo passo da pesquisa é
observar detalhadamente as candidatas.
http://hypescience.com/
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