De que lado ficam os países na crise da Síria
EUA, França, Reino Unido, Turquia e Arábia Saudita apoiam intervenção; Rússia, Irã e China defendem ação negociada
Via
As cenas mostrando a intoxicação de jovens e crianças em um suposto ataque com armas químicas
na Síria acendeu a luz amarela em relação ao conflito. Os EUA já sinalizaram que um ataque deve acontecer nos próximos dias
, com consequências ainda incertas para a região. Mas, e os outros países, de que lado ficam no desenrolar da crise?
Corpos de crianças mortas em suposto ataque químico jazem na região de Ghouta, Síria (22/8)
O governo turco tem sido um dos críticos mais ácidos ao
presidente sírio, Bashar Al-Assad. O chanceler turco, Ahmet Davutoglu,
já disse que o país está pronto para integrar uma coalizão internacional
contra a Síria, caso o Conselho de Segurança da ONU não determine uma
ação militar.
As monarquias do Golfo vêm desde o início do conflito
financiando as forças de oposição a Assad. A Arábia Saudita é um rival
do regime sírio há anos e tem atuado no campo diplomático para angariar
apoio internacional aos grupos rebeldes.
Embora tenha tentado se manter longe do conflito, Israel por três vezes bombardeou a Síria este ano
, alegando ataque preventivo contra supostos carregamentos de munição do grupo xiita libanês Hezbollah
. O país também respondeu a ataques a tiros vindo da Síria contra alvos nas Colinas do Golan
, território sírio ocupado por Israel.
Nos últimos dias, autoridades israelenses condenaram o
suposto ataque com armas químicas e indicaram apoio a uma ação militar
internacional. "Nosso dedo deve estar a postos. O nosso é um dedo
responsável que, se necessário, estará no gatilho", disse o
primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
Israel sabe que um ataque internacional à Síria pode
repetir o contexto da Guerra do Golfo, em 1991. Na ocasião, o Iraque
atacou Tel Aviv com mísseis Scud em uma tentativa de arrastar Israel
para o conflito.
O chanceler libanês, Adana Mansour, disse que não apoia a
ideia de um ataque à Síria. "Não acho que essa ação serviria à paz, à
estabilidade e à segurança na região", disse.
Dois ataques à bomba ligados ao conflito sírio deixaram
ao menos 60 mortos no Líbano neste mês. O grupo Hezbollah, que é
muçulmano xiita, colocou-se abertamente ao lado de Assad
(que é muçulmano alauíta, um ramo do xiismo).
Por outro lado, há grupos sunitas libaneses apoiando os rebeldes sírios (majoritariamente sunitas). O Líbano também recebeu milhares de refugiados sírios
, sendo o destino mais procurado por quem foge do país em guerra.
A República Islâmica do Irã (de orientação
xiita) tem sido o maior apoio do regime sírio na região. Nesta semana, o
Irã alertou uma alta autoridade da ONU em visita a Teerã das "sérias
consequências" de qualquer ação militar.
O chanceler Abbas Araqchi também disse que os
supostos ataques com bombas químicas foram perpetrados pela oposição, e
não pelo regime de Assad.
Após a cautela inicial em relação aos supostos
ataques químicos, os EUA subiram o tom. O secretário de Estado, John
Kerry, disse que o uso de armas químicas pelo regime sírio era
"inegável" e uma "obscenidade moral"
.
Desde então, Washington aumentou a presença militar naval no Mediterrâneo
, alimentando os rumores de que um ataque é iminente. A expectativa dos
analistas é de que os americanos lancem um ataque de uma base naval com
mísseis apontados para instalações militares sírias.
Principais aliados dos americanos, os
britânicos já organizam um plano militar de contingência, segundo o
gabinete do primeiro-ministro David Cameron. Qualquer ação será
"proporcional", dentro da lei e seguirá o que for decidido pelos aliados
internacionais, disse um porta-voz de Cameron.
Na segunda-feira, o chanceler William Hague
disse à BBC que a pressão diplomática sobre a Síria fracassou e que o
Reino Unido, "os EUA e muitos outros países, incluindo a França, estão
certos de que não podemos aceitar no século 21 a ideia de que armas
químicas possam ser usadas com impunidade".
Um dia após a veiculação das imagens do suposto ataque químico
, o chanceler Laurent Fabius pediu uma " reação de força
" caso se comprovasse o uso de tais armas.
Foto sem data divulgada nesta
segunda pela agência oficial Sana mostra o presidente sírio, Bashar
al-Assad, durante entrevista com o jornal russo Izvestia (26/8)
A França está entre os países com a retórica
mais dura contra Assad. Foi o primeiro país ocidental a reconhecer o
principal grupo opositor como representante legítimo do povo sírio.
Junto ao Reino Unido, a França também pressionou a União Europeia para que fosse levantado o embargo de armas à Síria
a fim de fornecer armamentos aos rebeldes.
A Rússia é um dos mais importantes aliados do regime de
Assad e tem advogado por uma solução diplomática para a crise. Qualquer
iniciativa contra a Síria no Conselho de Segurança também seria vetada
pelos russos.
Moscou já criticou qualquer possibilidade de ataque
internacional, dizendo que decisões tomadas fora do Conselho de
Segurança poderiam ter "consequências catastróficas para outros países
do Oriente Médio e do norte da África".
A China se juntou à Rússia ao bloquear resoluções contrárias à Síria
no Conselho de Segurança. Também falou contra um provável ataque internacional contra os sírios.
A agência de notícias estatal chinesa Xinhua disse que os
países ocidentais têm chegado a conclusões precipitadas sobre o suposto
ataque químico antes mesmo da inspeção da ONU.
Reprodução de vídeo mostra fumaça saindo de prédios por causa de bombardeio em Daraa, Síria (27/8)
O Brasil desde o início procurou se manter
afastado da crise síria, sendo inclusive alvo de críticas ao pedir uma
solução diplomática para o conflito em momentos que os aliados
ocidentais defendiam uma postura mais contundente.
Após o suposto ataque químico, o Itamaraty soltou nota
dizendo "que o ataque perpetrado nos arredores de Damasco (...)
constituiu ato hediondo, que chama a atenção da comunidade internacional
para a necessidade de esforços concentrados".
Apesar do tom mais duro, o Brasil ainda "reitera sua
posição de que não existe solução militar para o conflito e recorda seu
apoio à convocação de conferência internacional sobre a situação síria".
Com :
Último Segundo.
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