Ataque militar à Síria colocará EUA e Al-Qaeda do mesmo lado em conflito
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- especial para o iG
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Ação americana poderia provocar fragmentação da Síria, instabilidade no Líbano e piora nas relações entre Irã e EUA
O presidente americano Barack Obama aguarda a aprovação do Congresso
para iniciar uma ação militar na Síria, em retaliação a um suposto ataque químico
lançado pelo líder Bashar al-Assad
. Se a intervenção for aprovada, ironicamente EUA e a Al-Qaeda, piores
inimigos, passarão a lutar por um objetivo comum, pois entre os rebeldes
sírios anti-governo há grupos vinculados à rede terrorista.
“Os EUA e Al-Qaeda não serão aliados formalmente, no
sentido de que fizeram uma aliança. Serão 'aliados' entre aspas, por
força das circunstâncias: terão os seus interesses alinhados por uma
causa comum”, explicou Bernardo Wahl, professor na pós-graduação da
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
“Mas esse alinhamento temporário de interesses entre
Washington e a Al-Qaeda não será assumido por nenhuma das partes, pois
tornar isso público não interessa a nenhuma delas”, completou.
Se decidir por uma intervenção no conflito interno sírio,
o grande desafio dos EUA será justamente não fortalecer nenhum grupo
que atue de forma contrária a seus interesses. Portanto, os americanos
deverão descartar a estratégia de fortalecer a resistência a Assad,
acredita Marcus Vinicius de Freitas, coordenador do curso de Relações
Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “Não se pode
negar que Osama bin Laden
foi um dos membros do grupo de resistência aos soviéticos no Afeganistão, devidamente apoiado pelos EUA”, lembrou.
Segundo Freitas, o mais provável é que os EUA optem por
enfraquecer o regime sírio com ataques pontuais a instalações militares,
para reduzir seu poder de fogo. Ao mesmo tempo, devem procurar logo uma
formatação de poder que seja aceita pela população e que tenha
interesses alinhados aos seus. Formar um novo governo será o próximo
desafio, caso a intervenção contra Assad seja bem-sucedida.
Autoritário, o regime sírio conseguiu colocar ordem no
país, composto por uma série de grupos étnicos e religiosos. O cenário
pós-Assad é incerto e cheio de perigos, avaliou Wahl: “A queda de Assad
poderia descongelar conflitos até agora congelados pela ordem imposta
pelo governo. Uma Síria pós-Assad, caso não haja todo um complexo
processo de negociações, pode resultar em mais guerra civil, desta vez
entre os grupos que disputam o poder, considerando que os chamados
rebeldes são compostos por uma série de grupos.”
Ahmed vela o corpo de seu pai,
Abdulaziz Abu Ahmed Khrer, morto por um atirador de elite do Exército
sírio durante seu funeral em Idlib
Um dos cenários possíveis é o estabelcimento de
um novo regime autoritário, desta vez sob comando do Exército. “Em
sociedades desorganizadas, geralmente o aparato militar tende a exercer
um papel cada vez mais relevante, uma vez que é, de fato, o poder
estatal melhor organizado”, afirmou o coordenador da Faap.
“Seria necessário que dentro do Exército surgissem alguns
líderes que se oponham ao regime e busquem refugiar-se no exterior,
para posteriormente buscarem o suporte internacional. Alguns desses
líderes já saíram”.
Países vizinhos
O panorama dos vizinhos da Síria em uma possível ação
militar americana também preocupa os analistas. Uma onda de
instabilidade no Líbano, que ainda se recupera da sua guerra civil que
acabou em 1990, está entre os potenciais “efeitos colaterais” da queda
de Assad.
“O Líbano é historicamente uma zona de influência da
Síria. Assim como a Síria, o Líbano possui uma série de divisões étnicas
e religiosas e a guerra civil na Síria tem todo o potencial de acirrar
tais divisões”, disse Wahl.
Outro ponto delicado é o fato de o grupo Hezbollah
ser patrocinado pelo atual governo sírio. “Ao perder a Síria
supostamente para os EUA, deverá haver um endurecimento na postura do
Hezbollah, o que tornará a situação ainda mais difícil”, afirmou
Freitas. “O risco de uma guerra ampliada constitui uma ameaça séria."
A ampliação das tensões certamente chegará ao Irã, pois o
atual governo sírio é o grande aliado de Teerã na região. “Para
ilustrar o interesse do Irã na Síria, há soldados iranianos lutando na
guerra civil síria e o Irã também treina iraquianos xiitas para lutarem
junto às forças de Al-Assad, no que pode ser chamado de 'Legião
Estrangeira' iraniana”, destacou o professor da FESPSP.
Dessa forma, a “leve distensão” nas relações do Irã com os EUA e Israel conquistada com a eleição do moderado Hassan Rouhani
pode estar com os dias contados. “Este breve lampejo de distensão pode
se apagar com um eventual ataque dos EUA na Síria e complicar as
relações americanas-iranianas”, afirmou Wahl.
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